Notícias

O elogio do parto normal

O elogio do parto natural in Diario de Notícias

Depois de nove meses de espera, o parto é o momento mais feliz na vida dos pais. Mas também uma fonte inesgotável de medos. Marcela Forjaz ensina as mulheres a prepararem-se e os homens a participarem no processo. Para que nada possa ensombrar a aventura.

Com tanto material que já se escreveu sobre gravidez e parto, como explica que o seu novo livro, Parto Feliz [ed. Esfera dos Livros] seja o primeiro manual adaptado à realidade portuguesa?

Se calhar talvez tenha havido algum comodismo da nossa parte, de tentarmos adaptar-nos à informação que nos vinha de fora. Seja como for, havia algum desajuste relativamente àquilo que vivemos no nosso país e achei que era importante falar sobre o parto sem tabus, desfazendo os mitos. No fundo, tentar ter uma conversa com as grávidas para desmistificar aquilo que mais as preocupa.

E como é que ir atrás das teorias em voga nos EUA ou na Holanda pode fazer tanta diferença para as parturientes portuguesas? Um parto é sempre um parto...

Escolhi os EUA e a Holanda porque são realidades completamente diferentes das nossas, mas podia pegar na China, ou na Índia, ou em Moçambique. Cada país tem as suas peculiaridades. Se calhar nos EUA condena-se um parto em casa, mas depois vamos a Moçambique e é o mais comum. Temos de estar adaptados à realidade e tentar melhorá-la de acordo com as condicionantes. Vivemos num país em que temos um sistema nacional de saúde que ainda funciona e isso é uma grande mais-valia na nossa saúde materno-infantil. Mas isto traz também muitas peculiaridades. Na Holanda, por exemplo, pensaríamos o parto de uma forma completamente diferente, com uma vigilância da gravidez na fase terminal menos cuidada do que cá.

Quais são as principais dúvidas e medos das mulheres que a procuram?

Muitas interrogam-se sobre se serão capazes de ter um parto normal. Felizmente, esse ainda vai sendo o desejo da maioria das mulheres, mas elas questionam a sua capacidade e é importante perceberem que, à partida, todas estão programadas para conseguir um parto normal. No entanto, se por alguma condicionante física ou do bem-estar do bebé tiverem de mudar de estratégia, é importante estarem abertas às alternativas. O mais importante é que fiquem satisfeitas com o seu parto. Se uma mulher deseja uma cesariana, e após discutido o assunto ainda a quiser, ela acaba por ser soberana. Tem é de ter conhecimento do que se pode passar. Outros medos têm mais que ver com a capacidade de amamentar e com a ideia de que, no parto, se segue uma tradição familiar: a mãe teve-a e às irmãs por cesariana, provavelmente ela também terá de fazer uma. Há uma série de pontos que abordo justamente porque são comuns.

É aceitável fazer uma cesariana por vontade materna, ainda que baseada em receios (sobretudo o da episiotomia)?

Cada vez mais entendemos a grávida como soberana relativamente às decisões a tomar consigo e com o seu corpo. Porém, a nossa soberana tem de se lembrar que aqui há mais um elemento que depende dela e se calhar, se fosse ouvido, teria uma opinião diferente. Sou absolutamente apologista do parto natural, mas não fundamentalista. Se receia uma episiotomia, tem de perceber que isso será um pequeno corte de três centímetros. Numa zona sensível, é certo, mas não se compara a uma incisão de dez centímetros na barriga, para lhe penetrar no interior do abdómen e mexer-lhe em estruturas nobres. Desde que seja explicada a morbilidade associada à cesariana, os riscos, o quão melhor é para o bebé nascer de parto natural, é lícito a grávida ter a última palavra. Agora, é uma decisão que deve ser esclarecida. E o médico pode até ter algum papel persuasor, tentando fazê-la mudar de ideias. Isso também é lícito.

O que é que pode efetivamente fazer-se para ajudar o parto? Começar por não dar ouvidos às histórias assustadoras de outros?

Essa é uma boa medida. Levar uma vida saudável é outra. Uma mulher que se alimenta bem, que tem a sua prática de exercício físico diário, que leva uma vida social satisfatória e se relaciona com as outras pessoas e com a família, que não vive conflitos emocionais e está em paz consigo, é uma mulher que chega com muito mais naturalidade ao seu parto e aceita melhor as transformações que ocorrem ao longo da gravidez. A preparação para o parto começa muito antes.

Frequentar um curso de preparação para o parto é essencial?

Não é essencial, mas é importante porque ajuda a arrumar ideias, a trocar experiências com outras grávidas. No fundo, substitui um bocadinho aquela transmissão da tradição familiar. A gravidez já não é vivida no seio de uma família grande, em que as mulheres partilham saberes entre si, às vezes até excluindo um pouco os homens. E então recorremos ao que temos neste momento, que são as tertúlias administradas pelos cursos pré-parto. Há mulheres que preferem recolher-se, ler um livro de ioga, preparar-se calmamente para o que lá vem. Mas tem de haver alguma forma de preparação organizada, qualquer que ela seja. É de tal modo importante que o nosso sistema nacional de saúde tem apoiado a iniciativa de criar cursos em centros de saúde. Hoje em dia as grávidas já não têm de procurar só no setor privado.

Considera que o acesso ao manual ancestral de como parir está de alguma forma corrompido, tirando ao parto a naturalidade que teve em tempos?

Acho. Embora considere que há pequenos truques para, na altura do parto, fazer que essa parte antiga funcione. Um truque a que recorro muito, depois de ter a mulher sem dor (e mais descontraída e confiante por isso mesmo), é pedir-lhe que durma um pouco, que relaxe enquanto ouve a sua música favorita, ao mesmo tempo que baixamos um bocadinho a luz e diminuímos os estímulos externos. Quando faz isto, é como se a parte racional do córtex adormecesse, e aquela fonte arcaica que lá está liberta os conhecimentos para um parto satisfatório. Ela está muito alerta no seu trabalho: «Estou a dilatar? Demora?» Tudo isto lhe contrai o sistema, quando nós a queremos com os seus mecanismos antigos desinibidos, a permitirem que se abra para deixar sair o bebé.

Quais são os pontos que considera fundamentais na preparação para o parto?

Esse é um momento em que a grávida está muito disponível para ouvir, para ver se encontra refletidas nas palavras que escuta aquilo que se passa com ela. Portanto, tem de ser tudo abordado nesses cursos de preparação: desde as alterações que ocorrem nela e correspondem a adaptações à gravidez e à preparação física e emocional, até à conduta a adotar quando entra em trabalho de parto, os sinais de alarme que devem levá-la à maternidade, como receber o seu bebé e os primeiros cuidados.

Qual deve ser o trabalho do pai no momento do parto?

O importante é estar lá. É óbvio que os pais não têm todos de estar presentes no momento do parto, nem serão melhores pais por isso. Mas se estiver disposto a isso, é importante para a mãe ter o companheiro lá. Sentir que estão a viver juntos um momento emocional, mais do que a tranformação física. Até porque, às vezes, o pai se sente um bocadinho impotente naquele momento. Pode ajudar a levantar a cabeça da grávida, segurar-lhe nos ombros, dar-lhe a mão. Sobretudo, é sentirem-se próximos e partilharem aquele clima de emoção, é fazerem uma aprendizagem conjunta. Estão os dois em equipa nisto, ambos a aprender a interpretar o seu bebé.

É verdade ou mito a influência da Lua cheia, a ideia de que «parto vomitado é parto abençoado», a tese de que o segundo parto é mais fácil do que o primeiro?

Cada caso é um caso. Há trabalhos científicos que demonstram que, afinal, não há uma maior incidência de partos associada a uma fase da Lua, mas é verdade que muitas grávidas têm essa convicção e, se não são elas, é uma avó e elas acabam mesmo por entrar em trabalho de parto. Não será a Lua diretamente, mas a parte psicológica: a cabeça é muito poderosa. Também não é forçoso que o segundo parto seja mais fácil, até porque os segundos filhos costumam ser maiores. Agora, a parte dos vómitos confirma-se: são um efeito secundário da presença da ocitocina, a hormona que mantém o motor das contrações ligado e indica que o fim chegará em breve.

Confiança é meio caminho andado

O parto é um período particularmente fértil em receios e dúvidas e, por isso mesmo, a obstetra Marcela Forjaz tratou de escrever um manual único, totalmente adaptado à realidade portuguesa, para que as grávidas não deixem o medo roubar-lhes o prazer da maternidade. «Descomplicar a gravidez é fundamental para que a mulher vá confiante para o encontro mais marcante da sua vida», assegura a especialista, 47 anos e ela própria mãe de três filhos. Marcela é ainda autora de O Grande Livro da Grávida (2011), uma espécie de bíblia que responde a todas as questões que possam surgir em nove meses, desde os exames a realizar à vida sexual do casal, e Entre Barrigas (2008), em parceria com Dulce Gonçalves, uma amiga que se encontrava grávida na altura.

booking

Na Clinica M de Mulher by Marcela Forjaz encontra num só local todas as consultas relacionadas com a saúde da mulher, mas também para a sua família.

Onde estamos

Clinica M de Mulher

R. Marcelino Mesquita 19C
2795-134 Linda-a-Velha
Ver direções
211 991 347 *
912 806 007 **
marcacoes@m-de-mulher.pt

*Custo de chamada para um número fixo.
**Custo de chamada para um número móvel.

Subscreva a Newsletter