A incontinência urinária (IU) é a situação em que ocorre perda urinária involuntária. Embora esteja subdiagnosticada, porque é comum ocultar a situação só a referindo quando já é acentuada, esta é uma patologia que afeta 20% da população portuguesa com mais de 40 anos¹ subindo a prevalência para 35% da população com mais de 60 anos.
A prevalência aumenta com a idade, estimando-se que 50 – 85% dos idosos que residem em lares sofram desta patologia4. Representa um problema sério, com impacto profundo psicossocial na qualidade de vida dos doentes. Relativamente à sua incidência por sexo, entre os 45 e os 60 anos, a proporção de casos é de um homem afetado para cada três mulheres1. As estatísticas dizem também que metade das mulheres em alguma altura da sua vida vai ter incontinência urinária.2
A incontinência urinária distingue-se sobretudo em três grandes grupos: a de esforço (IUE), a de urgência (urgincontinência) e a mista.
A primeira – de esforço – ocorre quando há perda de urina em resposta a um aumento da pressão sobre a bexiga, como com a tosse, o espiro ou esforços (levantar objetos pesados, saltar, correr).
A incontinência por urgência ocorre na sequência de uma súbita necessidade de urinar. O exemplo típico é o de entrar em casa com os sacos das compras e ter de se atirar os sacos para correr para a casa de banho, por vezes perdendo urina já pelo caminho.
Finalmente, na mista, ambos os tipos estão presentes.4
Existem outros tipos menos frequentes como a incontinência por extravasamento, funcional, noturna (enurese), psicogénica, entre outros.
Na origem da IU podem estar patologias como, no homem, a hipertrofia ou a cirurgia à próstata e em ambos os sexos as alterações neurológicas, infeções, diabetes ou medicação com fármacos como relaxantes musculares, diuréticos ou sedativos.
Já na mulher, são ainda as condições naturais do seu ciclo biológico que a tornam um terreno vulnerável: a gravidez e o parto são fatores de risco consensuais para o aparecimento da IU3, tal como o estado de pós-menopausa.4
Quanto à sua abordagem, na bexiga hiperativa associada à urgincontinência, a mudança de hábitos de vida pode ser muito relevante, como evitar substâncias irritantes para a bexiga como o álcool, café, chá e bebidas gaseificadas. Outra medida será o treino da bexiga, ou seja, tentar esvaziá-la (urinando) cada 2h a 2.30h. Para este tipo de IU existe tratamento farmacológico e quando este não se revela efetivo pode também obter-se resultados com técnicas minimamente invasivas como a injeção de botox ou neuromodulação de raízes sagradas.4
Na IUE é importante a prática de exercício físico com um bom controlo do peso corporal, já que o excesso de peso é fator agravante da perda urinária.4 Os exercícios de contração dos músculos do pavimento pélvico são úteis e pode ainda recorrer-se a alguns suplementos que aparentemente têm ação nestes músculos recrutando-os com maior facilidade para esta função de suporte da uretra e auxiliadores na manutenção do seu encerramento, como os que contêm extrato de sementes de abóbora. Entre os seus vários benefícios, é referido algum efeito na hiperplasia benigna da próstata, devido à ação antioxidante e anti-inflamatória do óleo extraído das sementes e também foram observados benefícios no controle da bexiga hiperativa, em que a esta suplementação por 6 a 12 semanas esteve associada a melhoria da frequência urinária diurna, frequência urinária noturna, urgência e incontinência urinária5.
Ainda como abordagem conservadora, a fisioterapia do pavimento pélvico, tem um papel relevante. Na mulher pós-menopausa, o recurso a cremes ou comprimidos intravaginais com estrogénios pode ser uma ajuda para o controlo da micção. Tal como a mucosa vaginal, a mucosa da uretra ficará também mais espessada e elástica e como consequência terá maior capacidade de coaptação, oferecendo a necessária resistência à saída involuntária de urina.
Na incontinência urinária feminina, se todas estas opções falharem, pode recorrer-se à resolução cirúrgica, que passa pela colocação de fita para sustentação da uretra.
As alternativas terapêuticas existentes permitem-nos afirmar que atualmente 90% dos casos de incontinência tem cura.1
Bibliografia
1. Marques, H.S. Incontinência Urinária
http://www.metis.med.up.pt/index.php/Incontin%C3%AAncia_urin%C3%A1ria
2. Silva, A.I et al. Prevalência e impacto da incontinência urinária na qualidade de vida da mulher Rev Port Med Geral Fam vol.29 no.6; ISSN 2182-5173; Lisboa nov. 2013
3. Menezes M, Pereira M, Hextall A. Predictors of female urinary incontinence at midlife and beyond. Maturitas. 2010;65:167-71.
4. Comunicado da Direcção da Apnug a 14 de Março de 2020
5. RAMAK, Parvin et al. The beneficial effects of Pumpkin (Cucurbita pepoL) seed oil for health condition of men. Food Reviews International, [S.L.], v. 35, n. 2, p. 166-176, 28 jun. 2018. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/87559129.2018.1482496.